2005/03/05

A Incógnita

A equação, na página do seu caderno de apontamentos, começou a abrir uma cauda muito larga, manchada de olhos e de estrelas como a de um pavão; e depois, quando os olhos e as estrelas dos expoentes foram eliminados, começou a dobrar-se lentamente. Os expoentes que apareciam e desapareciam eram os olhos que se abrem e voltam a fechar; os olhos que se abriam e fechavam eram as estrelas que nasciam e se apagavam. O vasto ciclo de rutilante vida atraía o seu espírito exausto era para o seu limite exterior ora para o seu núcleo interno; uma música distante acompanhava-o para dentro e para fora. Mas qual música? As estrelas começaram a fragmentar-se e uma nuvem fria de poeira de astros caiu através do espaço.

A luz opaca caía debilmente sobre a página onde uma ou outra equação começava a desdobrar-se vagarosamente, com a cauda cada vez mais ampla. Era a sua própria alma a caminho da experiência, desdobrando-se pecado após pecado, alargando o sinal de perigo das suas estrelas ardentes, dobrando-se depois sobre ela própria, enlanguescendo devagar, extinguindo as suas próprias luzes e as suas chamas.

[ Joyce, James in "Retrato do artista quando jovem" (Título Original: "A portrait of the artist as a young man", '64) ]

Extinguiram-se?

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