2008/01/31

Palavras em Modo Dinâmico


Não são as palavras que se estragam. Não são as palavras que estragam os corpos que quisemos ou as palavras que não dissemos. Torno-me ao contrário dos outros: em vez de dispensar primeiro o número do telemóvel, acabo por primeiro perder o teu rosto, depois o resto do corpo, depois as palavras, para finalmente dispensar a morada e o telefone. Tudo por ordem contrária. Como num retrocesso. Como partir do fim, para chegar ao princípio até cumprimentar o nada.

Recordo-me que (já) era uma noite de verão, embora amena. O impossível era despedir-me de ti porque chocolate não rima com saudade e entre o chocolate sólido e o seu estado líquido, só tive mesmo tempo de deixar que corresses para mim. Só tive mesmo tempo de voltar a correr para ti.

Fim. Princípio. Fim.
I Am Murdered.

2008/01/30

O Vôo TP290108: Rio de Janeiro/Lisboa, via Marte

Num aeroporto desconhecido encontro-me entre o autocarro de serviço e as escadas que dão acesso ao avião para embarcar num vôo da TAP. Uma senhora brasileira aproxima-se e diz:

- Mi disculpe, mas eu não falarr English, 'cê poderia tjirar uma foto dji mim apanhando a terra?
- A terra? Mas qual terra?, perguntava eu enquanto ao mesmo tempo imaginava a senhora a rebolar-se nas placas de cimento da zona onde o avião estava estacionado, enquanto eu lhe tirava a fotografia.
- Aquela ali! A Terra!, respondeu a senhora apontando para o horizonte do céu o qual estava a um nível inferior ao nosso.

Olho para esse horizonte e vejo a Terra e a Lua ao longe, vejo um ponto que assinalava Vénus e muitas e muitas estrelas.

Foi lindo.

2008/01/28

A Parte do Universo Onde Eu Não Estou

És o meu irmão real, mas ao mesmo tempo já não és verdadeiro. Existes noutra dimensão e assim, todos os anos, neste dia acabo por permanecer em silêncio. Silêncio pelos gestos que fiz, muitos com certeza pela tua ausência, pelas linhas erradas que percorri, pelas frases pouco estruturadas que escrevi. Sabes, mano, cada vez mais as imagens prateadas que tinha dos invernos passam a quadros alaranjados que se movem, como se do fogo do inferno eu estivesse a falar. Apesar disso, tu ajudas-me sempre a ultrapassar essas farpas quentes que picam o meu peito, não que te inventasse na minha existência, mas pela memória de muita coisa que não tive ao teu lado.

Curiosamente, sinto-me triste por te imaginar longe deste mundo, mas ao mesmo tempo satisfeito porque alegremente estarás em parte incerta, mas longe deste mundo humano. Um dia seguramente irei ver-te à luz do dia. Durante a noite e como já aqui disse, veremos os dois juntos as estrelas, mas de cima.

Neste dia de hoje, o meu presente para ti são selos. Ofereço-te selos.
Com estrelas.

2008/01/26

LCD Colour TV

Pah, estou completamente sob o efeito do álcool....

olá? - o catano!
és giro? - vai-te foder!
a demo? - manda-me, caraças! está ok porque seguramente vou mandar-te a mensagem, porra.
que merda é essa no teu cabelo? - pompons do camandro? :S
bom descanso? - yeah, baby. depois fazemos contas, dude.
vais bazar? - dasse, ainda era tão cedo...
Lit Up? - Passou-se?
Sufjan Stevens? - era o que me faltava!
siga? - yeah, pela esquerda. Sim, também sou de Chaves. Obrigado, Sr. Agente.

Que alucínio de noite. Preciso de um galão.

2008/01/25

Fundo Sonoro Perfeito

Quem sabe um dia, ao pé do mar ou a navegar, apoie a tua testa nos meus braços e consiga distinguir, entre todo o teu cabelo, qual é a parte da tua pele que está inibida de apanhar sol.

2008/01/24

As Folhas Voltam a Cair em Setembro

Será a natureza humana equilibrada ou morta? Por mais que se busquem os verdadeiros conceitos da real Natureza, não conseguimos manter neste universo uma harmonia do princípio ao fim. Andamos a fingir que somos uma semente. Aliás, temos a pretensão de o ser. O que vale é que isto não é pior porque, tal como os predadores dão cabo de inúmeros rebentos que caem ao chão, outros impedem o nosso crescimento enquanto sementes. Assim continuamos a pensar que temos o nosso lugar no Universo.

Visto assim, parece que a nossa natureza é realmente equilibrada.

2008/01/22

A Importância do Nome de Família

O que seria da raça humana se as pessoas tivessem apelidos de raças de cães?
- Bom dia, diga-me o seu nome.
- Rita Caniche.
- Muito prazer, chamo-me João Labrador.
- Que engraçado, no liceu tinha um colega com esse apelido.
- Em que liceu andou? Eu andei no Filipa Basset.
- Ah! Eu também! Andei desde 1979 a 1982.
- Que coincidência! Também eu! Espera... não me digas que tu és a Rita, a amiga da Joana Pitbull?
- Sim! Que giro. Tu davas-te com o Zé Boxer e com o Tózinho Terrier, não era?

2008/01/21

Está Lá? Era um Bilhete Para Ulan Bator, Por Favor

Às vezes sento-me à mesa da cozinha, não para comer, mas para olhar para a fronteira que separa aquele espaço do resto do mundo. A embalagem do compal de maracujá, a caixa do Persil, as bolachas cream-cracker, a caixa do pão, o calgon, o jardim para além da janela, as plantas por trás da minha fronteira.

Medito. Acho que deveria ser produtor de televisão. Medito. Criaria um programa inspirado numa música dos The Chemical Brothers, tipo "As Produções do Salmão", ou mais fino, "Salmon Productions", a qual criaria concursos idiotas, mas de qualidade. Medito. Consulto o relógio. Medito, mas não encontro a solução. Como se me chamasse Enésimo Peixe. Pela n-ésima vez.

2008/01/19

Agarra, Com Firmeza, Como Se Fosse um Vício


... ou quando todo o Incógnito se encontra no Lux. Como num verdadeiro casamento, toda a família esteve ontem presente no concerto dos The Go! Team, no Lux. Foi FORMIDÁVEL!

Para breve e como habitualmente, vou escrever a minha opinião sobre o concerto no blog de desdobramento, Kraak FM <'+++<. Até lá, saltem a esta página, para ver um cartoon genial sobre os The Go! Team, o qual com muita pena minha não posso aqui publicar, pelo mesmo se encontrar protegido com direitos de copyright.

Ao pessoal do Norte: Hoje, The Go! Team em concerto na Casa da Música!

I'm Addicted!

[photo by Kraak/Peixinho @ Lux, Lisboa, 18 Jan '08]

2008/01/18

Fotografar o Nevoeiro


Não sei se a minha visibilidade horizontal se reduz a menos de 1000 metros. Não sei se as nuvens que por mim sobrevoam são compostas por poluição, prendendo-me estas à minha própria superfície. Não sei se a obscuridade presente na minha atmosfera é uma consequência do meu espírito.

Será que existe alguma forma de levar o nevoeiro ao lume? Pô-lo numa forma untada com manteiga, por exemplo. Será que existe alguma maneira de assar o nevoeiro? Com castanhas?

Nevoeiro com manchas de fumo.
Gostava de saber fotografar o nevoeiro. Alguém sabe como se faz?
Smog.
(Não. Não é o Bill Callahan)

2008/01/17

Kraak Sea Power! @ Bar Agito, 17 Jan '08

"O tempo das suaves raparigas
é junto ao mar ao longo da avenida
ao sol dos solitários dias de dezembro
Tudo ali pára como nas fotografias
É a tarde de agosto o rio a música o teu rosto
alegre e jovem hoje ainda quanto tudo ia mudar
És tu surges de branco pela rua antigamente
noite iluminada noite de nuvens ó melhor mulher
(E nos alpes o cansado humanista canta alegremente)
"Mudança possui tudo"? Nada muda
nem sequer o cultor dos sistemáticos cuidados
levanta a dobra da tragédia nestas brancas horas
Deus anda à beira de água calça arregaçada
como um homem se deita como um homem se levanta
Somos crianças feitas para grandes férias
pássaros pedradas de calor
atiradas ao frio em redor
pássaros compêndios de vida
e morte resumida agasalhada em asas
Ali fica o retrato destes dias
gestos e pensamentos tudo fixo
Manhã dos outros não nossa manhã
pagão solar de uma alegria calma
De terra vem a água e da água a alma
o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos
Sabemos agora em que medida merecemos a vida"

[por Belo, Ruy, Orla Marítima in Todos os Poemas]

Segue mais um convite musical para quem quiser lavar a alma ao pé do mar: Kraak Sea Power!, hoje, dia 17 Jan '08, a partir das 22hs, no Bar Agito, Rua da Rosa, 261, em Lisboa, ao Bairro Alto.

Apareçam, nem que seja a nadar! :))

2008/01/14

A Beleza Que Nos Aniquila a Vida

Nos tempos que correm e reduzido a quase nada, pensava eu que já conseguia distinguir a diferença entre ingenuidade e sacanice.

2008/01/13

Dust, Rust & Lust, by Kraak


Depois de uma noite de sábado (que espero bem passada), nada como levantarem às 4 da tarde de domingo, descansados e prontos para o início ou o fim (depende do ponto de vista, hehe!) de uma semana em grande. Para sacudirem o pó eventualmente existente nos ombros e para desenferrujarem as pernas preguiçosas, nada como aceitarem o convite para mais uma noite de delírio musical por mim desenhada: "Dust, Rust & Lust", hoje, dia 13 Jan '08, a partir das 23h30 no Mexe Café, Rua da Trombeta nº 4, ao Bairro Alto, em Lisboa.

Apareçam!

Wanna a smile like glistening shard?

:)

2008/01/11

A Humidade da Cova

Eu não tenho medo da vida. Da morte, acho que também não: habituei-me há alguns anos à ideia da sepultura. Apesar de seco, ainda tenho água para alimentar o contorno do meu caos. Sem humidade, também consigo valer-me dos fósforos ou do isqueiro para acender o rastilho do inesperado.

A questão é que a água é um bem cada vez mais escasso.

2008/01/09

É A Fingir?


Nos últimos 2 dias, mais uma vez encontrei uma música a qual por acaso gosto bastante ("A Hand to Take Hold of the Scene", dos Okkervil River) e que parece encaixar-se neste cenário de talkshow sensacionalista que pareço estar exposto.

Não é que este tema me faça chorar, antes pelo contrário. Permite concluir que embora o solo se tenha aberto à minha frente, ainda consigo ter o discernimento, não de arriscar a dizer o preço certo, não de adivinhar qual a letra inicial da capital da Letónia, mas sim de perguntar se não há para ali ninguém a deitar uma mãozinha a esta encenação.

[photo by Kraak/Peixinho @ Prime Club, Colónia (DE), 25 Nov '07]

A Felicidade Não Passa Por Ter uma Casa com Jardim


Recordo-me que desde miúdo me apercebi que as lágrimas são salgadas (recordo-me também que as moscas são azedas porque certa vez uma entrou pela minha boca sem pedir permissão). Sempre tive, quer por razões de personalidade, quer por razões de percurso pessoal, uma vida muito emotiva. Hoje não me emociono com o que provavelmente a maioria das pessoas sente ao deitar uma lágrima, mas sim com outras coisas, simples coisas, desde um filme, um vídeo, um livro, a chegada de alguém a uma nova cidade, uma música, a minha infância, a minha vida, uma imaginação, um sonho, as pessoas de quem outrora ri ou as pessoas que deixei fugir.

Se calhar por este motivo posso considerar que tive muitos momentos felizes na minha vida. Chorar é maravilhoso. A música sempre foi uma das principais responsáveis por eu derramar lágrimas. Por isso, gosto de presentear as pessoas com músicas, quer seja em formato vinil, K7, CD ou um mp3 solto via e-mail.

Quase chego ao absurdo de dizer que quero viver a chorar para (continuar a) ser feliz.

2008/01/07

A Distância Justa ou a Intersecção de Dois Semi-Planos?


A primeira vez que me apercebi do significado da palavra "acaso" teria eu 16 anos e foi no 11º Ano de escolaridade. Mais tarde, com os meus 18 anos e logo no 1º Ano da Faculdade, compreendi o seu verdadeiro significado. De alguma forma fiquei assustado, pois noutras cadeiras que tinha, o acaso não existia. A geometria do meu determinismo parecia óptima e de forma calorosa me diziam para optar entre o pó que assentava no chão e o pó que pairava no ar. Na realidade não sabia se queria ser essas pessoas ou se queria ser como essas pessoas.

Optei por um misto de aleatoriedade no meu determinismo. Como a realidade da vida. Ficar estocasticamente acordado durante a noite e de boca aberta não é obra do acaso. Talvez um indício probabilístico de algo já teria ocorrido numa estrada qualquer que passava por um desfiladeiro.

Casualmente pergunto-me se serei eu sorte ou se serei eu uma desgraça a convergir para uma regularidade estatística.
Casualmente tudo começa e deterministicamente tudo acaba, portanto somos todos fruto do acaso.
Casualmente não sei o que me esperava há pouco tempo atrás, mas nessa altura o agora viera até aqui, estivesse eu pronto ou não.

2008/01/05

O Incremento da Dimensão

Um dia, no futuro ou na eternidade, irei encontrar uma estrela ou um planeta onde possa sentir o que vivi há algum tempo atrás. Saltarei de anéis nebulosos para astros os quais esclarecerão os triunfos que não tive. Como uma sucessão matemática de números naturais, mas recorrente. Programam-se os sonhos e projectam-se os sentimentos como se o hálito da vida pudesse ser definido de forma dinâmica.

A minha amiga ontem apareceu novamente...
Não na minha janela.

Feliz fiquei eu porque, apesar de a desejar novamente na minha janela, ela fez com que outros se sentissem felizes. Assim concluo que o mundo não é só feito de variáveis discretas, mas também de variáveis reais. Como se vivesse em R(n+1).

2008/01/04

E Se o Céu Começasse a Baixar?

Quando os pássaros nocturnos gemem, conseguimos fechar os olhos, mas não conseguimos dormir. Os seus sons intermitentes insultam a nossa mágoa, sufocam o nosso pensamento, escondem-se nas nossas almofadas. Seguramente as suas dores são maiores que a minha e revolta-me pensar que o mundo, na realidade, é dos maus.

Será que conseguimos imaginar quantas pessoas não deveriam ter asas?


Video Credits: kuzetar @ youtube.com, via DangerousGround.

2008/01/03

Podo a Minha Rede Neuronal


Hoje, mais que ontem, podo a minha árvore de decisão.

De forma natural, há braços que caem por si. De forma artificial, elimino ramificações da minha rede neuronal porque estas em nada contribuem para uma optimização da minha vida.

Assim, a mesma árvore ganha uma nova forma. Favoreço o seu crescimento com galhos que nem sempre são preenchidos de azul, mas cujas tonalidades são sempre iluminadas.

É como se acendesse o meu cérebro.

2008/01/02

Ah! OK, Já Estamos em 2008



Qualquer cidadão desta Europa Ocidental pode levar com filmes diários de gajos a exporem uma marca de roupa qualquer com a sua pila em grande destaque. Qualquer cidadão desta Europa Ocidental pode levar com filmes diários de gajas nuas ou quase nuas a exporem uma qualquer roupa interior feminina ou pura e simplesmente a promover uma marca qualquer de um automóvel pedante. Qualquer cidadão desta Europa Ocidental pode levar com anúncios idiotas na TV (sem grande controlo no horário de passagem dos respectivos), nomeadamente o de um sapo com óculos de sol a foder uma gaja à canzana.

O anúncio da Associação Francesa de luta conta a SIDA o qual espelha um casal gay a fazer amor é que deve ser proibido.

Pois, o ano europeu da igualdade para todos foi em 2007. Já me esquecia que afinal estamos em 2008.

2008/01/01

A Racha na Minha Cabeça



fixa-se na posição "on" quando hoje acordo às 14h45 e reparo que é dia 1 Jan '08 porque tenho o telemóvel cheio de mensagens de malta desconhecida a desejar-me um bom ano.

Apesar de ainda não ter respondido, agradeço imenso a vossa radiação.