2008/01/07

A Distância Justa ou a Intersecção de Dois Semi-Planos?


A primeira vez que me apercebi do significado da palavra "acaso" teria eu 16 anos e foi no 11º Ano de escolaridade. Mais tarde, com os meus 18 anos e logo no 1º Ano da Faculdade, compreendi o seu verdadeiro significado. De alguma forma fiquei assustado, pois noutras cadeiras que tinha, o acaso não existia. A geometria do meu determinismo parecia óptima e de forma calorosa me diziam para optar entre o pó que assentava no chão e o pó que pairava no ar. Na realidade não sabia se queria ser essas pessoas ou se queria ser como essas pessoas.

Optei por um misto de aleatoriedade no meu determinismo. Como a realidade da vida. Ficar estocasticamente acordado durante a noite e de boca aberta não é obra do acaso. Talvez um indício probabilístico de algo já teria ocorrido numa estrada qualquer que passava por um desfiladeiro.

Casualmente pergunto-me se serei eu sorte ou se serei eu uma desgraça a convergir para uma regularidade estatística.
Casualmente tudo começa e deterministicamente tudo acaba, portanto somos todos fruto do acaso.
Casualmente não sei o que me esperava há pouco tempo atrás, mas nessa altura o agora viera até aqui, estivesse eu pronto ou não.

8 comentários:

IM disse...

...hum...eu gosto muito da perspectiva segundo a qual o acaso é simplesmente a ordem que desconhecemos...nessa perspectiva a liberdade é uma ilusão que julgamos viver a cada escolha...já me incomodou muito essa ideia em tempos...arrogava-me de uma liberdade que me pertencia, dona de mim mesma e das minhas opções, obviamente condicionadas por factores vários, mas, ainda assim nas minhas mãos. Tempos volvidos, muitos pensamentos e leituras depois, não me incomoda nada (pelo contrário me agrada) esta ideia de que tudo é ordem e o acaso é só o desconhecimento da ordem...reconfortante e paradoxalmente perturbadora, esta perspectiva recoloca-nos no mundo, parte integrante de uma natureza de que, em tempos já "fizémos" parte...
EU sei que é mais pacífica essa posição compatibilista que mistura, digamos, determinismo e livre-arbítrio...todavia, se calhar, porque o que é pacífico é estranhamente indefinido, prefiro os limites....
;-)

D'age disse...

Não vou comentar porque li alguns textos. São boas reflexões, por isso vou reflectir também.

Por lá as coisas vão andando...
Abraço

Unknown disse...

Im :) Interessante perspectiva a tua. Particularmente especial foram algumas palavras que citaste como "a liberdade é uma ilusão que julgamos viver a cada escolha". Provavelmente é uma ilusão, mas provavelmente também é uma forma de sabermos que podemos optar pela utopia... na realidade, a liberdade é um conceito subjectivo que pode variar de pessoa para pessoa.

É certo que a cada dia que passa, ficamos mais flexíveis quanto aos conceitos que outrora tínhamos em mente definidos. Naum sei se é "flexibilidade" ou se na realidade nos apercebemos qual o verdadeiro significado desses conceitos. Talvez seja mais isto.

Mas também naum é menos certo que essa ideia do acaso que aqui tentei deixar e que tu também agarraste é fabulosa. "Tudo é ordem e o acaso é só o desconhecimento da ordem" é uma tirada realmente perturbadora, entretanto sobreposta pela verdadeira magia de dar uma sequência lógica à vida. Nisto reside a nossa permanência.

Com imaginação. Com piada. Com estímulo. Com limites.

Bjzz definidos

Unknown disse...

D'Age :) Já reflectiste? Hehe! ;) Alguma novidade lá pelo outro lado? :)

Hugzz musicais

IM disse...

:-)
Kraak...obrigada pelas tuas palavras...
Sabes, se calhar essa possibilidade de optar pela utopia e preferirmos assim viver julgando que somos livres, talvez seja o nosso único "rasgo" de liberdade...
A natureza está cheia de leis...muitas delas foram desconhecidas durante longos séculos, muitas ainda não se conhecem e , talvez por isso, as julguemos inexistentes...tão inexistentes como eram as que hoje conhecemos séculos atrás...a nossa vida está cheia de regularidades...o nosso corpo...o nosso pensamento...o acaso, o aleatório parecem, por vezes, ser sinónimo apenas do nosso desconhecimento em relação à ordem...talvez faça parte da própria natureza a nossa ilusão de liberdade e talvez faça sentido nos julgarmos livres em cada escolha. Por outro lado, há aquela sensação de que o próprio acaso se joga dentro de determinismos...imagina que jogas um dado...podes fazer cálculos probabilísticos no que refere aos resultados o obter em 1500 lançamentos...todavia, esse cálculo de probabilidades faz-se dentro do limite máximo estabelecido de 6 possibilidades em cada lançamento...nunca te pode sair um 7...um zero...se conheceres o padrão que está por detrás dos lançamentos, conhecerás a "regra" queos justifica; enquanto não conheceres a regras, julgarás que o que te sai é pura obra da sorte, do acaso.
Não me choca nada pensar numa linha determinista...e acho que à medida que amadurecemos vamos simultaneamente tornando-nos mais "flexíveis" e também entendendo melhor os conceitos, ou uma coisa é consequência da outra, que é o mais certo...

Pronto...depois deste ataque de verborréia, peço desculpa...comment muito extenso, mais deixei-me ir!...

Beijos determinados!
IM

Unknown disse...

Im :) Fizeste bem em alongar-te no teu comentário. Há raciocínios que naum conseguimos cortar a meio só para reduzir o número de linhas de um escrito.

Continuo a achar bastante interessante essa linha de pensamento e só tenho pena que muito boa gente naum apareça por cá para ler estes apontamentos. Poderíamos até encontrar aqui algum ponto de discussão interessante.

Deixa-me dizer uma coisa sobre o exemplo do dado: conhecemos as regras e dentro desta experiência, sabes que nunca poderá sair um '7' ou um '0'. O padrão poderás determinar através dos 1500 lançamentos que fazes dos dados, embora a regularidade estatística te diga que para qualquer face do dado, essa regularidade irá tender para 1/6.

Mas este é um exemplo determinístico. Por vezes mais fácil de tratar. Por vezes naum. Os acasos mais curiosos são quando estamos num mundo contínuo, com regras mais ou menos estabelecidas, onde tu conseguirás seguramente encontrar um padrão ou quasi-padrão para a experiência.

Com alguma confiança garantida.

O problema ocorre quando estás precisamente do lado da rejeição. Da rejeição da hipótese.

Portanto, será a distância justa? Justa até pode ser. Mas é tramada. :S

Bjzz probabilísticos

IM disse...

:~-)
Certo...o exemplo que dei do dado é um exemplo muito simples, determinístico, mas extensível, no seu significado à relaidade humana a que te referes...
Supõe: és colocado perante uma situação em que tens de tomar uma decisão; são-te "dadas" algumas possibilidades/saídas que tu equacionas no sentido de decidir o que julgas ser melhor naquele caso; de um modo geral sentes que tens liberdade de optar pelas diferentes alternativas, que tens motivos para optar por uma e não por outra, etc., certo?
Pois bem...vamos então "complicar" e tentar perspectivar as coisas de outra maneira: pertences a uma cultura/sociedade...aprendeste/apreendeste dessa cultura modos de pensar, valores, ideias, informações várias, etc,; herdaste dos pais pais uma determinada constituição biológica, determinados traços psicológicos, físicos, etc., certo?
Então, pensa assim:
1) As condições(leia-se) circunstâncias em que foste colocado e nas quais te é exigida uma decisão, ultrapassam-te, isto é, remontam a factores que não controlas, que tre antecedem e te conduziram ali;
2)Pensas "ah, certo, mas em última análise sou EU que decido o que fazer com isso!"...pois, só que a forma como pensas sobre as situações, o que decides ou não está à partida imposto pelas circunstâncias em que foste educado, cresceste, os valores que defendes, etc.;
3) Portanto, não podias decidir de maneirta diferente daquela em que decidiste, ou seja, só tens a ilusão de escolhar porque, na verdade, tal escolha é determinada por tudo o que te antecede.
Ou seja, há a ilusão (saudável) de ser livre em cada escolha...somos a soma do que fizémos de nós e do que os outros fazem de nós e no dia de amanhã diremos o mesmo em relação a hoje...pronto...mais um comment extenso, mas olha, deixa lá!!!
Concordo quando falas da discussão que aqui poderia surgir...por defeito, feitio ou (de)formação, adoro discutir ideias!!!
Beijinhos despertos!
IM

Unknown disse...

Im :) Concordo mais ou menos. Claro que somos feitos de percursos, educação, etc., mas nós modificamos muito nas nossas vidas, naum? Há toda uma etapa em que nos vamos transformando e pondo de lado alguns dos factores da nossa "educação". Portanto, tomamos uma decisão no pressuposto de um somatório de experiências ocorridas nas nossas vidas.

Naum sei exactamente se isto será uma ilusão. Eu percebo que é sempre uma decisão condicionada. De acordo. Mas até aí as probabilidades podem ajudar. :)

Bjzz condicionados