O Som, #5 - Continuação
[continuação deste post]
Já em casa e depois de vir todo o caminho a pensar no que tinha acontecido, reflectiu bastante e concluiu, apesar de tudo, que não estava arrependido do sucedido. Mais até: "viver na ignorância é para os fracos e eu não sou assim. Vou resolver esta trampa toda e ficar limpo de toda esta sujidade".
Num repin, decidiu ir tomar café (coisa que nunca fazia no exterior à noite) e ao sair de casa voltou para apanhar o seu telemóvel. Os seus pais estavam um pouco baralhados com todo aquele alvoroço mas como sempre não faziam perguntas. Saiu e disse que não se iria demorar.
No café, começou a percorrer a lista dos seus contactos no telemóvel. Pensava em ligar a Marta. Mas (já) não tinha o seu contacto. Procurou 'Júlia'. Mas Júlia também não existia... e lembrou-se que se calhar não estaria registado como 'Júlia', mas sim como 'Dada' (foi assim alcunhada há muitos anos atrás...). Encontrou 'Dada'. Felicidade.
Após algumas hesitações decidiu não telefonar a Júlia e ao sair do café atalhou rapidamente para a praça de táxis que ficava no quarteirão seguinte ao do café.
- Boa noite. É para Estrela, mesmo ao pé da basílica, por favor.
Durante os 10 minutos da corrida, Miguel pensava "mas que porra vou eu fazer?". Mas rapidamente Miguel divergia do seu pensamento, sabendo que, fosse o que fosse, teria que ter aquela atitude para regressar à Holanda, pelo menos descansado com a sua consciência.
Basílica; táxi pago, andou alguns metros até ao prédio onde Dada ou melhor Júlia vivia. Tocou. A porta abriu-se. Subiu.
- Heeeeeee! Por cá? Mas que surpresa...
- Posso entrar Júlia?
- Claro! Entra. Sirvo-te um café?
- Não, obrigado. Já tomei café antes de vir até aqui.
- Um whiskey ou outra coisa qualquer?
Miguel, sem grandes cerimónias, ignorou a pergunta e sentou-se no sofá da sala onde alguns segundos depois Júlia também abancou.
- Júlia, é assim: a minha visita não vai demorar muito tempo nem quero entrar em grandes pormenores sobre o passado. Vim mesmo aqui expressamente para te pedir uma coisa.
Júlia com uma expressão facial um pouco modificada conseguiu balbuciar um "pede-me".
- Júlia, sei que as coisas não foram fáceis para ti e todos nós tivemos as nossas razões... O que é um facto foi que Marta decidiu dar-te crédito e quem ficou na merda fui eu, não só por perder a Marta mas também pelo peso que andei a carregar no meu ombro.
- Mas...
- Cala-te se fazes favor. Deixa-me continuar. O que é uma realidade é que as vidas mudaram e se queres mesmo saber já tinha orientado este assunto comigo mesmo de outra forma. O acaso juntou-nos novamente e não vou desperdiçar esta oportunidade para esclarecer algumas coisas. Não tenho o menor interesse em Marta. Este assunto já está emoldurado no meu museu particular.
- Ainda não percebi o que queres...
- Se queres continuar a ter a amizade de Marta, não apareças amanhã ao nosso encontro. Inventa uma desculpa qualquer, marca com ela no sítio onde combinámos e depois liga a desmarcar, ou que apareces mais tarde, olha não sei, faz o que entenderes melhor, mas deixa-me ter algum tempo de conversa a sós com ela. É importante. Hoje mesmo consegui antecipar a minha viagem para Amesterdão para sábado porque não quero estar com esta treta na mente.
- Oh pá... isso é complicado... ela iria desconfiar. Que iria eu dizer-lhe?
- Não. Ela não vai desconfiar. Aliás até pode desconfiar, mas acredita que é isso que ela quer. Pode ser?
- Mas eu gostava de estar convosco...
- Fodass Júlia! Que porra! Tu sempre foste a 'Dada', agora 'loira' é que não. Duh! Custa-te assim tanto? Ou preferes que as coisas tenham outro rumo?
- Do que me estás a ameaçar, hein?
- Nada. Pode ser? Sim ou sopas?
- Tu sempre foste um bardino, a fazer todas aquelas coisas à Marta, e...
- Hey! Espera aí... interrompendo Júlia e com a voz num tom acima. - Nada disso. A fazer aquelas coisas que TU supostamente imaginaste... e que NUNCA esclareceste à Marta. E mais: queres saber? O Frog sabe disso. Imagina! Até aquele ghetto absurdo sabia como as coisas eram. Só mesmo a tonha da Marta para te passar cartão... Essa sim, aloirada. Bah.
- O Frog??
- Sim, ele sempre te deu protecção porque gostava de Marta e sabia que vocês eram inseparáveis. Conquistando-te a ti, teria Marta com mais facilidade. Burra! Nem pareces mulher.
Mas a mente de Júlia era muito mais poderosa que Miguel supunha.
- Olha, caguei. Não sei. Vou fazer um café e respirar um pouco. Pensava que já não iria viver este filme outra vez. Dasse! Se arrependimento matasse, eu já morava na Buraca.
- Pois olha Júlia, eu vou para casa. Não vou ficar aqui à espera das tuas incursões pelo planeta dos robots. Se quiseres dar-me uma satisfação podes ligar-me ainda hoje para casa dos meus pais. Imagino que ainda tenhas o número. Caso contrário, lá estarei às 23 horas no Bairro, no sítio onde combinámos. Quer vás ou não, garanto-te que não vou ficar estático como se as coisas se remetessem novamente à paranóia.
Levantou-se, abriu a porta e saiu. Nem se despediu de Júlia. Apanhou um táxi e começou a mexer nos bolsos à procura de qualquer coisa. Era o seu iPod que buscava o qual ficou em casa. Ao chegar começou violentamente a percorrer a lista das 4000 músicas à procura daquela que se assemelhava ao som que lhe percorreu a mente no encontro vespertino com Marta e Júlia.
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Continuação aqui quando a partner tiver pachorra e inspiração :)
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Cronologia: Início; O Som, #2; O Som, #3; O Som, #4.
Já em casa e depois de vir todo o caminho a pensar no que tinha acontecido, reflectiu bastante e concluiu, apesar de tudo, que não estava arrependido do sucedido. Mais até: "viver na ignorância é para os fracos e eu não sou assim. Vou resolver esta trampa toda e ficar limpo de toda esta sujidade".
Num repin, decidiu ir tomar café (coisa que nunca fazia no exterior à noite) e ao sair de casa voltou para apanhar o seu telemóvel. Os seus pais estavam um pouco baralhados com todo aquele alvoroço mas como sempre não faziam perguntas. Saiu e disse que não se iria demorar.
No café, começou a percorrer a lista dos seus contactos no telemóvel. Pensava em ligar a Marta. Mas (já) não tinha o seu contacto. Procurou 'Júlia'. Mas Júlia também não existia... e lembrou-se que se calhar não estaria registado como 'Júlia', mas sim como 'Dada' (foi assim alcunhada há muitos anos atrás...). Encontrou 'Dada'. Felicidade.
Após algumas hesitações decidiu não telefonar a Júlia e ao sair do café atalhou rapidamente para a praça de táxis que ficava no quarteirão seguinte ao do café.
- Boa noite. É para Estrela, mesmo ao pé da basílica, por favor.
Durante os 10 minutos da corrida, Miguel pensava "mas que porra vou eu fazer?". Mas rapidamente Miguel divergia do seu pensamento, sabendo que, fosse o que fosse, teria que ter aquela atitude para regressar à Holanda, pelo menos descansado com a sua consciência.
Basílica; táxi pago, andou alguns metros até ao prédio onde Dada ou melhor Júlia vivia. Tocou. A porta abriu-se. Subiu.
- Heeeeeee! Por cá? Mas que surpresa...
- Posso entrar Júlia?
- Claro! Entra. Sirvo-te um café?
- Não, obrigado. Já tomei café antes de vir até aqui.
- Um whiskey ou outra coisa qualquer?
Miguel, sem grandes cerimónias, ignorou a pergunta e sentou-se no sofá da sala onde alguns segundos depois Júlia também abancou.
- Júlia, é assim: a minha visita não vai demorar muito tempo nem quero entrar em grandes pormenores sobre o passado. Vim mesmo aqui expressamente para te pedir uma coisa.
Júlia com uma expressão facial um pouco modificada conseguiu balbuciar um "pede-me".
- Júlia, sei que as coisas não foram fáceis para ti e todos nós tivemos as nossas razões... O que é um facto foi que Marta decidiu dar-te crédito e quem ficou na merda fui eu, não só por perder a Marta mas também pelo peso que andei a carregar no meu ombro.
- Mas...
- Cala-te se fazes favor. Deixa-me continuar. O que é uma realidade é que as vidas mudaram e se queres mesmo saber já tinha orientado este assunto comigo mesmo de outra forma. O acaso juntou-nos novamente e não vou desperdiçar esta oportunidade para esclarecer algumas coisas. Não tenho o menor interesse em Marta. Este assunto já está emoldurado no meu museu particular.
- Ainda não percebi o que queres...
- Se queres continuar a ter a amizade de Marta, não apareças amanhã ao nosso encontro. Inventa uma desculpa qualquer, marca com ela no sítio onde combinámos e depois liga a desmarcar, ou que apareces mais tarde, olha não sei, faz o que entenderes melhor, mas deixa-me ter algum tempo de conversa a sós com ela. É importante. Hoje mesmo consegui antecipar a minha viagem para Amesterdão para sábado porque não quero estar com esta treta na mente.
- Oh pá... isso é complicado... ela iria desconfiar. Que iria eu dizer-lhe?
- Não. Ela não vai desconfiar. Aliás até pode desconfiar, mas acredita que é isso que ela quer. Pode ser?
- Mas eu gostava de estar convosco...
- Fodass Júlia! Que porra! Tu sempre foste a 'Dada', agora 'loira' é que não. Duh! Custa-te assim tanto? Ou preferes que as coisas tenham outro rumo?
- Do que me estás a ameaçar, hein?
- Nada. Pode ser? Sim ou sopas?
- Tu sempre foste um bardino, a fazer todas aquelas coisas à Marta, e...
- Hey! Espera aí... interrompendo Júlia e com a voz num tom acima. - Nada disso. A fazer aquelas coisas que TU supostamente imaginaste... e que NUNCA esclareceste à Marta. E mais: queres saber? O Frog sabe disso. Imagina! Até aquele ghetto absurdo sabia como as coisas eram. Só mesmo a tonha da Marta para te passar cartão... Essa sim, aloirada. Bah.
- O Frog??
- Sim, ele sempre te deu protecção porque gostava de Marta e sabia que vocês eram inseparáveis. Conquistando-te a ti, teria Marta com mais facilidade. Burra! Nem pareces mulher.
Mas a mente de Júlia era muito mais poderosa que Miguel supunha.
- Olha, caguei. Não sei. Vou fazer um café e respirar um pouco. Pensava que já não iria viver este filme outra vez. Dasse! Se arrependimento matasse, eu já morava na Buraca.
- Pois olha Júlia, eu vou para casa. Não vou ficar aqui à espera das tuas incursões pelo planeta dos robots. Se quiseres dar-me uma satisfação podes ligar-me ainda hoje para casa dos meus pais. Imagino que ainda tenhas o número. Caso contrário, lá estarei às 23 horas no Bairro, no sítio onde combinámos. Quer vás ou não, garanto-te que não vou ficar estático como se as coisas se remetessem novamente à paranóia.
Levantou-se, abriu a porta e saiu. Nem se despediu de Júlia. Apanhou um táxi e começou a mexer nos bolsos à procura de qualquer coisa. Era o seu iPod que buscava o qual ficou em casa. Ao chegar começou violentamente a percorrer a lista das 4000 músicas à procura daquela que se assemelhava ao som que lhe percorreu a mente no encontro vespertino com Marta e Júlia.
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Continuação aqui quando a partner tiver pachorra e inspiração :)
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Cronologia: Início; O Som, #2; O Som, #3; O Som, #4.
11 comentários:
Opá... estou tramada :)
Gostei desse "repente" do Miguel. Hum... Hum...
Kisses indagadores
P.S.: ospóis tenho de discutir um pormenor contigo
Sea :) Naum estás nada! Dás a volta a isso num repin também, como o Miguel :P
Bjzz esclarecedores
Pintoribeiro :) Então pq? Ontem à noite o blogspot estava atrofiado. Se calhar foi por este motivo... Será?
Hugzz
Estava todo marado sim sr.! Eu abri várias janelas de comentários noutros blogs e aparecia-me tudo desformatado...
:S
Pelos vistos, naum fui só eu a testemunhar o atrofio do blogspot :P
isto desta vez vai demorar um pouco mais, desinspirada completamente...
beijos desinspirados
Sea :) Ohh! Take your time! Queres alguma inspiração? Sabes que maluqueiras na minha cabeça naum faltam :P
Bjzz inspirados
estou com saudades destes textos :)
beijos nostalgicos
Sea :) Eich! Do que te foste lembrar! Isto já tem 1 ano! O tempo voa! Qualquer dia voltamos a escrever um conto. Melhor que este, hehe :))
Bjzz saudosos
fico à espera :)
pode ser que seja um novo fôlego para este blog ;)
beijos de incentivo
Sea :) HAHA! Vou pensar nisto. Preciso ainda de acertar algumas coisas a nível blogosférico.
Obrigado pela forcinha! :D
Bjzz agradecidos
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