Ultrapassada que está a fase "Mundial" e todos os acontecimentos gerados à volta do tema (bem, é certo que comparativamente ao Euro '04 tudo se desenrolou de uma forma mais normal), tais como a abertura de bordéis à volta de alguns estádios na Alemanha, algumas mulheres desesperadas com os seus maridos/namorados porque durante 1 mês não viam mais nada à frente senão o esférico a rolar sobre os relvados, a pouca-vergonha organizada pela SporTV e patrocinada pela TV Cabo, a arbitragem de determinados desafios, a máquina mafiosa que move todo este mundo, entre outros acontecimentos, o que mais me surpreendeu neste rescaldo foi o conteúdo de um e-mail que ontem recebi da minha Sócia.
E este e-mail reflectia a passagem de um livro de Mia Couto, "O Fio das Missangas", que rezava assim:
"(...) O que me inveja não são esses jovens, esses fintabolistas, todos cheios de vigor. O que eu invejo, doutor, é quando o jogador cai no chão e se enrola e rebola a exibir bem alto as suas queixas. A dor dele faz parar o mundo. Um mundo cheio de dores verdadeiras pára perante a dor falsa de um futebolista. As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras e nenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro, rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinha marcado contra o destino? (...)"
Não se trata aqui de já não apreciar o futebol. Não se trata aqui deste ser um desporto popular. Não se trata aqui de dizer que se leio determinado jornal não posso gostar de coisas popularuchas. Não se trata aqui de ouvir Jafumega e votar CDS/PP nem de ouvir Ágata e votar BE. Trata-se de bom senso.
Todos nós temos telhados de vidro e há que saber respeitar o desporto. Se há, como muita gente diz, 11+11 idiotas a correrem atrás de uma bola, também há, noutros desportos, ditos elitistas, há 2 cretinos a apanhar bolas, como é o caso do ténis.
O que mais me revolta é tudo o que há por trás destas actividades, com particular destaque, para o futebol.