2005/05/10

Refugiado

Num



é como me sinto. É como aguardo.
Em silêncio. Neva lá fora.
Não sei qual é a tonalidade do céu.


Tristeza nos teus olhos

Fumo de um antigo comboio a vapor
Faúlhas em brasa soltas
Que povoavam o interior do teu corpo

Sabes, eu não queria dizer-te adeus

E não quero concluir que o amor é uma grande ilusão
Não quero e não posso ser
Contraditório com as antigas estações onde desci

Há coisas que esqueço, mas… ainda existem

Algumas
Presentes
No meu cérebro

Sinal verde – arranque de saída
Não havia semáforos vermelhos
A via estava livre
Frenagem. Emergência.

Descarrilamento.


Sou o único que se sente ainda um pouco

Perdido
No meio da via, junto aos carris
Junto à erva que cresce ao seu lado

Há coisas que esqueço, mas… ainda existem

Algumas
Presentes
No meu cérebro

Não sou seguramente o passageiro

Pelo qual o teu coração chama e
Por isso, partiste
Eu sei

Sentado numa das carruagens

Sózinho no meio do Nada
Não sei qual caminho seguir, não sei qual linha apanhar
Não sei qual transbordo fazer

Eis que há vozes que anunciam nesta minha 3ª paragem

Informações e palavras deslocadas
Não muito de ti
Já não muito mais de mim

Adiam-se os momentos de

Apanhar o comboio para a
4ª paragem
como o tempo que uma árvore leva a crescer

(Foto enviada pelo meu amigo Sérgio)

(dedicado à Humanidade, by Kraak/Peixinho 2005, Viagens de Comboio pelo Mar, 1965-XXXX)

20 comentários:

sereno disse...

ser refugiado num comboio...
talvez o que faca mais confusao `e ver a porta a abrir e nao poder sair.
mas nao sao momentos que se perdem, sao momentos que se adiam.

Anónimo disse...

É triste partir quando se deseja ficar, ver a paisagem a correr sempre na direcção contrária à vontade do nosso coração!

Serão momentos que se adiam? Penso que não; linhas diferentes levam a destinos diferentes, tornando o reencontro numa imagem dolorosamente impossível.

Jokas
CTM

Anónimo disse...

de quantas viagens é feita uma vida? Umas queridas, desejadas, outras sofridas.....
Lindo querido! Passei a ser leitora mais que diária deste teu cantinho tão especial...
tenho que ir a tua casa escolher umas músicas.... disso tenho a certeza.
xi-coração
nat&sobrinhas

Anónimo disse...

Não costumo responder a comentários de blogs. Leio pela curiosidade de perceber onde me movimento. Mas ao ler-te hoje não resisti. (Espero que não me leves a mal).

Como outro eu que vagueia como todos nós na imensidão da humanidade, apenas te queria dizer que há alturas na vida em que a solidão nos ajuda a discernir caminhos... linhas... transbordos. A vida prega-nos partidas, essencialmente faz-nos perceber que, por vezes, dizemos adeus àqueles que seriam a nossa "paragem" de eleição. Orgulho?! Medo?! Não sei, apenas sei que os receios nos impedem que nos deixemos invadir pelos sorrisos e que o calor de certos amores nos aqueça.

Mas há sempre a possibilidade de sucumbir e viver intensamente aquilo que para nós é realmente vital.

Essencialmente, não busques a paragem segura quando ainda estás, ao que parece pelas palavras que escreves, parado no apeadeiro anterior...

Maria Helena

Unknown disse...

Sereno, o ke + fez confusão foi antes ver a porta fechar-se e ficar na plataforma a ver o comboio partir. Mas, estou de acordo ctg. São momentos adiados. 4 sure!
Bjzzz
Kraak/Peixinho aka O Adiado

Unknown disse...

CTM, julgo que por vezes é bom viajar de costas. Pelo menos contemplas a paisagem por mais tempo. E sendo assim, acredita que pode haver momentos adiados. Naum concordo necessariamente que linhas diferentes levem a destinos diferentes. Há muitas linhas diversas ke convergem para um ponto comum, embora tb reconheça ke algumas linhas não passam por esse ponto. Mesmo neste caso, olha que a probabilidade do reencontro não é nula. As nossas vidas são preenchidas de incertezas e são estas meninas ke trazem magia à vida.
Hugzzz
Kraak/Peixinho aka Viajar de Costas

Unknown disse...

Natas :) + sobrinhas princesinhas :)) São muitas as viagens das nossas vidas: umas mais curtas outras mais longas. Estradas, caminhos, paisagens, calor, frio, cores. Temos é ke saber qdo viajamos se necessitamos efectivamente desfazer a mala ou dela tirar apenas o necessário. A magia da incerteza é perfeita para tomarmos uma decisão... se pudermos.
Beijaum GRANDEEE
Kraak/Peixinho aka Vai tirando o Necessário

Unknown disse...

Maria Helena :) Obrigado pela visita e pelo 1º comentário que aqui deixaste. Não sendo habitual que o faças, deixa-me dizer-te que gostei bastante do que escreveste. Deves faze-lo mais vezes! E obviamente que não levo a mal! É verdade tudo o que escreves, mas pergunto-te/pergunto-me: porquê o receio? Orgulho e medo, todos temos. Uns mais que outros. Será o receio do orgulho e/ou do medo? E disseste bem: "apeadeiro". Nem sequer é uma estação. Não sou ninguém para transformar um apeadeiro numa estação, embora haja apeadeiros muito mais importantes que muitas estações.
"Talvez a tua lenta melancolia se dissipe se à noite a um veloz comboio a confiares."
(Sandro Penna)
Bonito, não?

Aparece sempre!
Um abraço,
Kraak/Peixinho

Anónimo disse...

Kraak/Peixinho, faz-me confusão viajar de costas e não ver o que está à minha frente.

No entanto, tudo o que reconheço se afasta de mim e este comboio não sei para onde me leva. Vou apenas, até onde me levar.

CTM

Unknown disse...

CTM, experimenta fazer uma viagem inteira de costas. Se viajas sempre de frente, podes não ter tempo para agarrares aquilo que queres... e podes ter sempre a oportunidade de carregares no sinal de alarme e... fazer o comboio parar no local escolhido. Pensa nisso.
Hugzzz
Kraak/Peixinho aka Sneltrein

Anónimo disse...

Como te disse anteriormente, não costumo comentar o que leio, mas hoje deparei-me com a tentação de, para além de voltar a este blog, comentar esta conversa amena sobra a vida, as paragens, as partidas, as chegadas.

Quando escreves “porquê o receio?!”.

Pensei, reflecti, olhei para a minha vida (já conto com os meus 47 anos) e apenas te sei dar uma opinião muito própria. A resposta, só dentro de ti a encontrarás.

Mas permite-me dizer-te então: fizeste-me recuar cerca de uma década. Até hoje penso no que não fiz. Penso na pessoa, no seu sorriso, no seu olhar, na sua doçura, no significado de todas as palavras que me queria dizer e não necessitavam de ser pronunciadas. Até hoje não consigo esquecer que o meu medo me impediu de sorrir e, essencialmente, não permitiu que alguém mantivesse o sorriso na minha direcção e me fizesse simplesmente viver. O amor, os sentimentos mais fortes, têm destas coisas. O medo apodera-se de nós e é pernicioso, impede-nos de discernir que certos apeadeiros são mais importantes que muitas estações centrais. Nesses apeadeiros encontram-se por vezes aqueles que nos surpreendem pelo seu ser, pela sua essência, pela sua singularidade e pelo carinho que nos transmitem, coisa que, numa estação central, não conseguimos, por regra, encontrar. Eles são o reflexo da vida que vivem hoje, uma vida apressada, vazia do que é mais importante e o mais importante continuam a ser as relações, a amizade e, num rasgo de sorte, o amor.

Mas voltando à história, à minha hístória, um dia tive o receio, o receio de me deixar levar num turbilhão de sentimentos, num jogo no qual era apenas uma das peças. Quis mais, quis tudo, quis o controlo e... perdi.

Hoje o brilho que vi nos meus olhos nesses tempos, sei-o agora, de felicidade, perdi-o e até hoje me arrependo do meu orgulho manipulador não me ter deixado simplesmente viver.

É uma opinião que te deixo, uma história, uma história que marcou e marca até hoje cada gesto, cada passo que dou no meio da multidão. Hoje sei que perdi por culpa própria. Não desci no apeadeiro e nunca mais soube onde descer.

Por isso, e se me permites, deixa-me simplesmente concluir com um conselho (se achares que estou a ser intrometida, peço desde já que me desculpes, mas não estou a conseguir resistir). Se te encontras numa encruzilhada de linhas e sabes para que lado a queres direccionar, não hesites. Só vivemos uma vez e, pela minha experiência, confidencio-te aqui que tenho praticamente a certeza que só se encontra alguém especial uma vez e que só quando a encontramos vale a pena perder os receios, para simplesmente viver.

Não permitas que o teu “veloz comboio” te impeça de saires no apeadeiro certo, que por vezes achamos que já não existe, ou foi simplesmente uma miragem, mas que está simplesmente à distência de um gesto. Basta por vezes puxar a “paragem de emergência” para saltares.

Espero ler-te um dia com um brilho diferente nas palavras.

Salta para a vida sem receios e tem a certeza que está na tua mão transformar “um apeadeiro numa estação”.

Maria Helena

Anónimo disse...

Carrego, carrego, carrego; parti o botão de tanto carregar e o comboio continua a andar!!!

Quero sair!!! Salto do comboio e... descubro que o que queria vai no outro comboio em sentido oposto; como chego lá?

CTM

Anónimo disse...

Mas k poema lindo!
Quem escreveu,estava realmente inspirado.
Parabéns!

Aguarela

Unknown disse...

Maria Helena :) Eu já tinha lido o teu comentário hoje ao fim do dia. Voltei a ler. Quando cheguei a casa, li novamente. Agora decidi mais uma vez ler e responder. És um encanto. Eu gostaria de te responder em concreto, ponto por ponto, mas acho que não o devo fazer por este meio. Acho-te uma mulher com muito para contar e a forma como te "desinibiste" para expressar coisas do teu passado, porque provavelmente sentes que algo semelhante se passa comigo, foi de uma beleza pura. Aqui quero agradecer-te pela visita e pelas tuas palavras que muito me ajudaram e que com certeza irão ajudar nos próximos dias. Por algum motivo ainda estou na 3ª paragem. Certo?
Se quiseres realmente saber o meu comentário, manda-me 1 e-mail que eu te respondo via outlook.
Obrigado mais uma vez pela visita. Volta mais vezes. Por favor.
Hugzzz
Kraak/Peixinho Vai transformar o ap em est

Unknown disse...

CTM, se descobriste que o que querias vai noutro comboio de sentido contrário, resta saber se o que querias ia ao teu encontro. Como tens que tirar essa dúvida, sabes o que te digo: se ao teres saltado, não te magoaste, apanha o próximo comboio na mesma direcção do outro.
Hugzzz
Kraak/Peixaum aka Trainspotting

Unknown disse...

Aguarelita :) Obrigado. Fui eu kem escreveu. (estou com vergonha)
Hugzzz
Kraak/Peixinho aka Shame on Me

Anónimo disse...

Krakuito, realmente tens uma imaginação fértil. As palavras para ti são como água na nascente!
Mas se a data é de 1965, então que idade tinhas qd escreveste o poema?

Vi bem não vi?

Aguarela

Unknown disse...

Aguarela :) eu tenho uma imaginação fértil desde 1965! O que escrevi foi escrito em 2005. Aguarela distraída!
Hugzzz
Kraak/Peixinho aka Serpente '65

Anónimo disse...

Ok, já entendi, o k está em X:
1965-XXXX, é aquela data k nós ainda não sabemos.
K distração a minha! isto surge sempre na biografía de qualquer celebridade, certo?
Estou brincando!!!
Quando publicas um livro de poesia?

Então és serpente, no signo chinês?
Interessante!
Hugzzz
Aguarela, distraída.

Unknown disse...

LOL Aguarela :) Haha! 'Tavas mesmo distraída. Já não poderás ser RP qdo eu publicar o meu livro de poesias.
Hugzzz